Uma experiência triste
Acho que como uma experiência triste eu posso considerar um período de transição. Quando mais nova eu tinha muita dificuldade em aceitar o fim de algo, sempre tive aquela resistência, uma certa negação. Acredito que todos enfrentamos essa batalha alguma vez na vida. É muito difícil aceitar que nem tudo depende apenas de nós. Eu demorei para entender isso, sempre quis manter o controle de tudo.
Até eu perceber que estava completamente bagunçada por dentro demorou, já que eu nunca quis enxergar a realidade da coisa. Eu prometi abrigo a quem não tinha um pingo de consideração com todos os sentimentos que eu o permitia circundar pelas prateleiras do meu coração. Eu o aquecia com a chama da minha paixão. O alimentava com todo o meu desejo. Divertia-lhe com toda a felicidade que eu acreditava ser de origem da sua presença. O abraçava com todo o meu amor. E ele usava tudo isso, mas não cuidava, não mantinha organizado. No fim do dia estava tudo jogado pelo chão. Sem importância.
No início eu arrumava tudo no lugar. Eu achava saber de todos os meus sentimentos, acreditava fortemente que ele não me bagunçava de propósito, que era culpa da paixão avassaladora. Mas não. Eu me perdi no meio daquela bagunça depois de um tempo, não sabia mais o lugar de cada coisa. Não sabia nem se aquilo ainda era luxo. Então continuei reutilizando todos os sentimentos, adiando cada vez mais a reforma dentro de mim. Até ele decidir que eu não era mais útil. O que ele achava sentir por mim se tornou descartável, eu só fui me dar conta que o que eu sentia por ele já tinha virado lixo há muito mais tempo quando ele abriu a porta do meu coração e foi embora. E então eu fiquei vazia. Ele bateu a porta ao sair, e isso afetou as vigas do meu coração. O abrigo que eu lhe ofereci foi, enfim, desmoronado.
“É preciso dez vezes mais tempo para se colocar em ordem novamente do que é preciso para desmoronar”
Foi essa a lição que eu tirei disso tudo. E foi por essa e outras que eu decidi nunca mais me negar a enxergar a realidade. A idealização é inimiga da felicidade. Me permito sonhar, mas não me permito acreditar que todos os meus sonhos se realizarão, principalmente quando nem todos dependem apenas de mim.
Caso você esteja se perguntando o que rolou depois disso, eu me reconstruí. Fortaleci minhas vigas. Joguei fora os sentimentos que já não tinham mais vida, mas guardei em um baú nossas melhores e piores lembranças, para eu recordar o quão forte eu sou. Meu coração segue vivo e forte, cheio de amor para dar. Minha cabeça também ficou ainda mais forte, só que nela eu decidi demolir todas as paredes, para me livrar de preconceitos e ideias que eu acreditava serem verdades absolutas. Por querer ter tudo tão quadradinho, não tinha tanto espaço para novas experiências. Então me desfiz dessas paralisações. E encaro o fim como um começo.
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