O dia do fim (conto - parte 1)

Ela se senta na mesa da praça de alimentação, deixa sua bolsa e nossas blusas ocupando as cadeiras da frente e puxa a que está ao seu lado pra eu me sentar. Ela com certeza fez isso para me ter perto. Mas eu não posso sentar ali, não posso dar esperanças a ela justamente por causa do que vim fazer aqui hoje, preciso continuar distante.
Saber que esse é o nosso último momento namorando aperta meu coração, mas não temos conserto, já está tudo ferrado.
Coloco a bandeja com os lanches na mesa, tiro as blusas de uma das cadeiras e junto com a bolsa dela. Me sento na sua frente e não ao seu lado. Por um momento enxergo sua expressão desabar, mas no mesmo segundo ela melhora a postura e recoloca um sorriso no rosto. Está tentando mostrar que isso não afeta ela, e ver que afeta, me dá um desconforto no estômago, não quero que ela sofra com a minha partida.
Não é difícil saber quando ela está de fato feliz, quando sorri, os olhos sorriem juntos, é a coisa que mais gosto nela. Mas agora, seus lábios sorriem e seus olhos estão tristes, queria poder mudar isso. Preciso ser forte como ela. Eu juro que tentei nos dar mais chances, mas as coisas não estão como antes entre nós, é como se a chama do amor tivesse apagado e, nós não temos isqueiro e nem fósforos para reacende-lá.
Começo a abrir meu lanche em silêncio, viajo para longe dela e alcanço um destino somente quando percebo a enorme montanha que está entre nós, essa distância está boa. Noto sua insegurança e ansiedade, ela está muito inquieta, com certeza tá tentando pensar em algum assunto pra puxar comigo.
- E aí, foi lá perto de casa sábado pra jogar bola?
Respondo que sim e só.
- Nossa,nem foi me visitar.
- Meus pais pediram pra eu voltar logo, não ia dar tempo - coloco um ponto final no assunto.
- Ah, entendi.
Ela tenta puxar mais alguns assuntos, mas sem sucesso. Depois de um tempo reparo que ela nem tocou no lanche.
- Você não vai comer?
- Vou sim
O desconforto é perceptível, ela quer falar alguma coisa mas não sabe como. Uma hora ela vai ter que tentar e não demorou muito para isso.
- O que tá acontecendo entre a gente? Você tem algo pra me falar? - ela solta essas perguntas mesmo ainda querendo as deixar presas, a voz tremida.
- Tenho, acho que devíamos conversar.
- Tudo bem, sobre o que quer falar?
- Sobre nós.
Tentei ser o mais empático possível. Disse que percebi sua tristeza nos últimos dias e era melhor terminarmos. Não que eu seja egoísta, mas está na cara que realmente não damos mais certo, e eu só pioraria sua vida. Disse também que quero continuar sendo seu amigo, só não nos veremos com tanta frequência, dentre outras coisas.
Eu não sei que reação eu esperava, mas as lágrimas começaram a pingar do seu rosto com tanta rapidez que eu me seguro pra não levantar da cadeira e abraçá-la. Ela fala muitas coisas a respeito disso e eu só escuto, mas a última pergunta que me faz, aperta meu coração e eu não sei se devia responder a verdade. Ela disse:
- Pra conseguir seguir em frente, eu preciso ouvir da sua voz. Você não me ama mais?
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