Um Lugar Querido
Acordava tarde todos os dias. As únicas coisas que me fariam acordar mais cedo seriam ou um evento especial ou pesadelo durante a noite. Mas segui dessa forma, não enxergava motivo para mudar. Demorava mais ou menos uma hora para me arrumar, da forma mais robótica que você pode imaginar. Parece que meu cérebro só começava a funcionar quando estava no carro com meu pai, indo para aquele lugar tão controverso. Ou você se sente livre ao terminar o ensino médio, ou quer voltar correndo nem que seja só por mais alguns meses. Faço parte do segundo grupo.
Digo que é controverso pois o mesmo lugar pode ser um refúgio para alguns, ou a cúpula do trovão para outros. Acho que todos nós experimentamos pelo menos um dia de cada tipo. Porém, não importava quão ruim fosse o dia, eu ainda poderia encontrar refúgio naquela carteira especifica, que se encontrava ao lado de uma das pessoas mais importantes para mim nesse período e no resto de minha vida.
Sentamos em dupla por vários meses e depois de algum tempo, se tornou natural voltar àquelas duas carteiras sempre que estávamos aflitos com algo. Como quando uma apresentação estava chegando e treinávamos nossas falas um com o outro (dificilmente eu resistia o impulso de fazer alguma piada sobre a voz dela). Ou quando estava exausto e diminuía drasticamente a quantidade de palavras que saíam de minha boca. Ela notava rapidamente meu comportamento e, na maioria das vezes pelo menos, respeitava meu espaço e me ajudava a recuperar o fôlego.
É incrível como algo tão simples e cotidiano ficou tão marcado em minha memória como aquelas duas carteiras de madeira e ferro, grandes o bastante para serem confortáveis em um ambiente tão inquieto, mas ainda sinônimos de cansaço mental e preocupações.
Partindo do pressuposto de que você, leitor, utilizou apenas uma carteira durante toda sua vida no ensino médio, se ela tivesse consciência, se pudesse ler seus sentimentos durante todos os anos em que esteve nela, quanto de informação ela teria armazenado sobre você? Ela saberia de coisas que nem sua família sabe? Te entenderia melhor do que você mesmo? Acredito que elas sempre foram refúgios para os estudantes, mas poucos enxergam isso durante aquela época tão agitada. Eu mesmo não pensei nisso até ter de pensar em um lugar querido para escrever esse texto.
Texto escrito por @aununes_
Comentários
Postar um comentário